A algum tempo, pessoas do meu convívio que sabem que sou estudante de espiritualidade, vêm me perguntar como conciliar a religião delas e um caminho espiritualista mais abrangente. Muitos que convivem comigo sabem que participei de muitas religiões e hoje sei quais são as minhas convicções e cada um possui a sua, e lendo o texto que se segue abaixo do irmão e conselheiro (sem ele saber) Alexandre Cumino respondi a mim e a muitos que possuíam dúvidas sobre convicções religiosas.
ENQUANTO HOUVER UMBANDISTAS que se declaram católicos ou espíritas, este assunto sobre identidade umbandista, pertença religiosa e rótulo religioso será tema para mim e para muitos outros que escolheram pensar sobre a Umbanda que temos e a Umbanda que queremos. Ou melhor ainda: a umbanda que somos!
Assumir a identidade de uma religião que não traduz a sua verdade, uma religião que você não pratica, uma religião que você desconhece seus dogmas e fundamentos, é ter apenas um rótulo religioso. Sim, você não tem e não vive uma religião, apenas tem um rótulo religioso.
Este é o seu caso? Então ACORDE! e pergunte para si mesmo se a sua religião é apenas um rótulo? Para visitar uma Igreja, ir a um casamento em uma Igreja, rezar para Jesus ou aos santos, não é necessário ter um rótulo de católico. Agora você carrega este rótulo por que crê que é algo bonito? Você tem um rótulo para se identificar com a maioria e não se sentir contrariando ninguém? Você tem este rótulo para não ter que discutir religião com ninguém? Então sinta-se bem-vindo e tome consciência que, de forma inconsciente, você é manipulado e faz parte de uma massa que não sabe e nem se interessa em saber de onde veio e para onde vai.
Isto é tão forte que, para muitos, a única maneira de trocar sua identidade e pertença religiosa é passando por uma desrotulação, ou seja, por mais que frequentem uma outra religião, só assume esta identidade depois de serem rebatizados. Esta é uma das razões de ser do ritual de batismo na Umbanda, afinal, não cremos em pecado, muito menos em pecado original*.
O batismo ajuda a desrotular e, para muitos, é uma forma de assumir um novo rótulo, ou identidade, agora, umbandista. Pelo fato da Umbanda ser uma religião de minoria, assumir esta identidade, na maioria das vezes, é um gesto consciente e de consciência, por ser a Umbanda uma cultura de contracultura. Ou seja, uma forma de viver mais livre e solta com relação ao valores moralistas e hipócritas de um mundo antigo, os quais muitas religiões tentam manter em nome da tradição ou da família.
A Umbanda reconhece a importância da tradição com relação aos rituais em meio a um mundo pós-moderno, ou seja, guardar o que é bom e reciclar o que não nos serve mais. Quanto à família, é um fato de que as famílias estão mudando sua forma de ser e de se relacionar. Não cremos que a família é uma instituição falida como dizem os mais radicais, no entanto, existem novas estruturas de famílias, novas formas de conviver e de criar laços afetivos e consanguíneos e a Umbanda nos ajuda a entender estas novas realidades e nos dá apoio para trilhar dentro da verdade acima de tudo.
O valor da tradição, ou da família, não pode ser mais forte que a sua verdade. Viver na mentira ou na hipocrisia não faz parte de uma vida vivida com valores saudáveis nem para si muito menos para os seus. Como diria Krishnamurti: “estar de acordo com uma sociedade doentia não é sinal de uma vida saudável.” Por anunciar a vida em liberdade de consciência e verdade, a Umbanda pode ser considerada uma cultura de contracultura nacional e pós-moderna que vive e existe sem alarde. Afinal é muito mais fácil viver sem se dar ao trabalho de pensar, apenas seguindo a massa e assumindo os valores que lhe parecem unanimidade. Por mais que se diga que “toda a unanimidade é burra”, continua sendo uma tendência seguir a unanimidade.
Desrotule-se, mas não faça isso apenas para assumir um novo rótulo. Não faça da Umbanda seu novo rótulo religioso. Veja que a Umbanda é um novo olhar para a vida e veja na Umbanda uma forma de transformar sua vida e seu destino, uma oportunidade de tornar-se consciente de si e de sua espiritualidade. Caminhar com verdade e consciência, isto sim deve ser sinônimo de ter uma religião como a Umbanda a dar sentido para sua vida. Portanto, Umbanda não é mais um rótulo, etiqueta ou crachá para pendurar ao peito ou no pescoço. Umbanda é seu despertar para o sagrado, Umbanda é consciência total e integral, Umbanda é acordar para a vida, Umbanda é um olhar para o mundo objetivo e subjetivo ao mesmo tempo, Umbanda é algo que você é e não algo que você carrega.
DESROTULE-SE,
religião não é rótulo!
DESROTULE-SE,
religião é consciência!
DESROTULE-SE,
religião é teoria, prática e vida!
* Para a Igreja Católica o ritual de batismo existe para que a pessoa se livre do Pecado Original cometido por Adão e Eva, do qual todos os seres humanos são herdeiros. Embora Cristo não tenha falado nada sobre isso e muito menos João Batista, a Igreja criou sua própria “Teologia do Pecado”, na qual o batismo é peça fundamental. Além disso, o batismo é e sempre foi originalmente um ritual de iniciação, limpeza e pertença religiosa.
Obs.: As partes do texto em negrito são destaques de minha autoria.
Texto de Alexandre Cumino, extraído do Jornal de Umbanda Sagrada, nº 167 – abril de 2014.